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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

TV Itacolomi



"Não existe hoje, fora a bomba atômica, reação maior na sensibilidade de um meio coletivo do que a televisão". Francisco de Assis Chateaubriandt em artigo de O Jornal (10 de novembro de 1955) sobre a chegada da TV a Minas.
Em http://vendoideais.blogspot.com/2011/01/pioneira-tv-itacolomi.html



Mais um grande show, muita atração
Tem coisa nova na televisão
Itacolomi
O seu canal 4 vai lhes mostrar
Um novo show espetacular
Vinheta de abertura

Pela Itacolomi
A sessão vai começar
Pra você se divertir
Tem cinema em seu lar
Vinheta da sessão de cinema Cinema na Itacolomi

Sempre na liderança
Canal 4, Belo Horizonte
Minas Gerais
Vinheta de intervalo
Vocês não podem perder
Um programa que já vem aí
Romance, emoção, sensação, novela
Na itacolomi
Vinheta de chamada da programação


Olha como é bacana
Você ligar a TV
Quem tem voz está aqui
Primeira vinheta

Você vai saber pela Itacolomi
Noticias daqui, notícias de lá
Notícias de todo lugar
O canal 4 é o primeiro a dar
Vinheta do jornalismo

A ZYA 721 - PRB3 – TV, adquirida a concessão em 1951, mas só inaugurada às 19:30 do dia 8 de novembro de 1955 por causa de impasses com o governo de Getúlio Vargas, que sofria imposição em seu segundo mandato por um grupo de emissoras e decidiu dificultar as novas implantações de canais de televisão no país, fundada pelo visionário paraibano Assis Chateaubriand, que a integrou ao seu Diários Associados, do qual fazia parte a TV Tupi de São Paulo, a pioneira das emissoras de televisão no Brasil, a TV TUPI do Rio, os jornais Estado de Minas e Diário da Tarde e as rádios Mineira e Guarani, a TV Itacolomi, em vez de TV Rádio Guarani como constava na licença 29.905/54, pois Chateaubriand resolveu, em tempo, homenagear um pico da cidade, a “TV dos mineiros” como ficou conhecida, começou suas transmissões do 23º andar do edifício Acaiaca, na av. Afonso Pena, em Belo Horizonte, Minas Gerais, o, então, mais alto da capital, num processo de aprendizado enquanto se fazia experimentações por seus técnicos aventureiros, profissionais em maior parte vindo do rádio, e se dirigindo a poucos telespectadores que compunham um grupo seleto de pessoas mais abastecidas financeiramente e com nível cultural melhor, sendo considerada àquele momento como a mais moderna emissora de televisão do país. Antes da inauguração havia sido feito testes de transmissão pelos engenheiros da emissora, sendo que a primeira vez que a cidade viu uma imagem transmitida do alto do Acaiaca, na ocasião a torre da Igreja São José com o relógio marcando duas horas e cinqüenta e cinco minutos da tarde, foi no dia 21 de abril de 1955, numa alusão não confirmada à data de comemoração da Inconfidência Mineira. Após esta prosseguiu-se com transmissões de filmes e desenhos animados conseguidos de diversas fontes, até mesmo com a doação de particulares, dos quais alguns recebiam a narração dos locutores da rádio Guarani.
Belo Horizonte à essa altura era uma cidade em processo de industrialização. A maior parte da população não possuía condições financeiras para ter um aparelho receptor de TV em casa. Contudo, a fundação de uma transmissora de sinais de TV na capital funcionou como um dispositivo facultador do progresso no Estado. 
Além da limitação de telespectador por causa de assuntos financeiros, a pioneira ainda enfrentou algumas paranóias como o medo de a antena de transmissão cair do alto do edifício onde foi instalada ou de que um avião pudesse se chocar contra ela. No entanto, não demorou muito e as cidades vizinhas de Belo Horizonte já recebiam os sinais da TV Itacolomi e a emissora ganhava o status de veículo de comunicação popular, devido a algumas transmissões especiais realizadas, entre elas uma feita para a penitenciária de Neves.
Chateaubriand esteve em BH para fazer uma pré-estréia da TV, sem que a equipe de transmissão estivesse preparada. O que causou um certo pânico, mas que no final deu tudo certo. Em seu discurso, dirigido ao povo mineiro, Assis disse que a Itacolomi nascia como a mais moderna da América Latina e ainda mencionou o fato de a transmissão em cor estar em franca experimentação em alguns países e que seria um acontecimento breve para o telespectador brasileiro ver transmissões com tal característica.


Tão logo fecharam os testes com a transmissão oriunda do Acaiaca e do caminhão de externas, iniciou-se definitivamente a veiculação dos sinais com uma estrutura excelente para a época: com três câmeras no estúdio e outras três para as externas. A imagem de estréia trazia o locutor Bernardo Grimberg rompendo um círculo de papel com o logotipo da RCA, aconteceu a benção do bispo da Igreja Católica, as falas do presidente da república Juscelino Kubitschek, do diretor geral da Associadas, seu diretor em Minas, Newton de Paiva Ferreira, o engenheiro Victor Purri Neto e o banqueiro do banco da Lavoura, Cristiano Guimarães, responsáveis respectivamente pelo financiamento e estruturação da emissora, além da madrinha da emissora, Ana Amélia Faria.
A primeira grade foi acompanhada através de aparelhos que foram espalhados pela cidade por uma multidão que mais tarde se transformaria nos televizinhos e televisitas – os filões de aparelho de televisão que ainda não podiam comprar um – e trazia, intercalados por comerciais ao vivo apresentados por garotas-propaganda vindas da TV Tupi de São Paulo, os programas:
20:50 – Coro Pró-História
21:15 – Espetáculo de dança do Ballet Minas Gerais
21:45 – Honra ao mérito
23:10 – Minas por Minas. Apresentando as artes de Minas.
A programação diária foi montada, seguindo exemplo daquilo que era feito no Rio e em São Paulo, com destaque para o teleteatro, com o compromisso de se enquadrar dentro dos preceitos morais e cristãos, conforme disse em seu discurso o diretor das Associadas em Minas Gerais. Vários artistas de Minas Gerais e dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo foram contratados nos primeiros dias para que se pudesse convencer os comerciantes da capital a anunciar durante a programação da emissora e com isto se fazer um faturamento que permitisse a manutenção e o avanço dela. A importação de artistas durou até que se encerrassem as comemorações de inauguração, depois disso a Itacolomi fez valer a vocação que lhe deu fama, a de ser uma televisão regional, na qual os artistas locais predominavam. Participaram desse período: Helvécio Guimarães, Lady Francisco, Rodolfo Mayer, Leny Eversong, Dalva de Oliveira, Sivuca, Jackson do Pandeiro, Eva Todor, Cacilda Becker, Lolita Rodrigues, Erlon Chaves, Wilma Bentivegna, Ângela Maria e o músico Ary Barroso. E destacaram-se na programação pioneira o Ballet Minas Gerais, dois coros de igreja: o Pró-Hóstia e o Pio X, o palhaço Muxiba, vivido por Floriano Andrade, a peça O Cara de Aço, as missas transmitidas nos dias 13 e 15 pelo caminhão de externas, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e uma mesa-redonda que contou com a participação de políticos da sociedade mineira.
O telejornalismo chegou após as comemorações de estréia. O noticiário precursor foi o Repórter Real, batizado com esse nome por causa do patrocinador, Real Aerovias Brasil, e recebia o material ilustrativo e informativo do jornal O Estado de Minas. O formato era tal qual o modelo usado no Rio e em São Paulo, com apresentador lendo o texto sentado à uma mesa de frente para a câmera, revezando com o aparecimento de fotos e gráficos ilustrados, enquanto não se chegava a era de inserir também filmagens dos acontecimentos nacionais. O Repórter Esso veio logo a seguir, com o apresentador Luiz Cordeiro na locução das notícias redigidas por Ramon Lago, jornalista que utilizava telegramas enviados em inglês pelas agências.
A TV expandia sua programação, passa a durar mais tempo no ar aos domingos, a partir das 10 horas da manhã, e aumenta o número de transmissões através do caminhão de externas, agora com o futebol revezando com missas e teatro, tendo que para isso preencher os espaços demandados para as montagens, desmontagens e locomoção do caminhão com programas de estúdio.
Em 1959 inaugurou-se um link de transmissão com a Tupi do Rio de Janeiro e com isto a programação local sofreu baixa, se mantendo apenas os programas que competiam na preferência da audiência nativa. Assim foram parar na TV dos mineiros as telenovelas que eram produzidas naquele centro e também alguns modismos típicos da sociedade carioca. A partir de 1960 inicia-se a concorrência em Minas com novas emissoras surgindo, focando sua programação, com exceção da TV Alterosa, que foi concedida a jornalistas mineiros e entregue a administração da  Associadas por causa de falta de recursos para implantá-la, naquilo que era produzido e emitido do Rio de Janeiro e de São Paulo e o resultado foi considerado por uns como fator de evolução da sociedade local e do interior de Minas, e por outros, um lamento pela morte da tradição de se fazer uma TV nativa.
Em 1961 o tempo de duração dos intervalos comerciais foi limitado para três minutos, de acordo com um decreto estabelecido pelo presidente Jânio Quadros.
À partir de 1965, não bastasse a concorrência da TV Belo Horizonte, que fazia com que as emissoras se preocupassem com uma produção mais qualitativa de programas e comerciais, o videoteipe aparece e passa a significar mais um golpe ao status de TV de produção local que a Itacolomi desejava manter pra sempre. Uma vez gravados com antecedência os programas feitos no eixo Rio-São Paulo podiam ser trazidos facilmente e integrar a transmissão de suas coligadas em Minas. Cada vez mais esses dois centros determinavam o que seria visto nos aparelhos receptores de todo o país, conforme o escritor Inimá Simões, e o mineiro é fadado a ver seu espaço na televisão reduzido a um tempo bem limitado aberto nas emissoras que traziam do Eixo a programação.
Com o passar do tempo a programação de televisão no Brasil deu lugar a programas que vinham do exterior – Estados Unidos, Inglaterra, Itália, México – tendo nacionalmente perdido terreno as produções nacionais. Foi a era da invasão dos enlatados estrangeiros. Em seus primeiros anos, a Itacolomi alcançou um sucesso ainda não superado nos quisitos inovação técnica, ousadia e qualidade artística e produziu cinco telenovelas. São elas: Uma Consciência de Mulher, Apenas um Fantasma, Rosa Maria, Estrada do Pecado, por Janete Clair, Sinete Fatal. Além dos já citados, outros programas locais da emissora que atingiram boa audiência foram Universidade Popular da Manhã, educativo jovem comandado por André de Carvalho no final da década de 1960, Bombeiros em foco, jornalístico apresentado por Ubaldino Guimarães, Discotape, 1978, com Dirceu Pereira. Além da Missa Dominical os católicos acompanhavam sempre aos domingos Don Serafim em seu A Palavra de Deus. A Tia Dulce, que faria sucesso nas manhãs da TV mineira à partir de 1980 com o seu Clubinho da Tia Dulce na TV Alterosa, começou na TV como garota-propaganda de um programa da Itacolomi chamado Sessão Feminina em 1955.
A TV Itacolomi, junto a mais sete emissoras, teve seu óbito em 18 de julho de 1980, às 10h27m, por decreto de perempção assinado no governo Figueiredo e transmitido via telex, quando agentes do Dentel (Departamento Nacional de Telecomunicações) lacraram a antena transmissora de cada emissora da Associadas.
O Jornal do Brasil de 19/7/1980 fez uma matéria especial explicando como foi a baixa de cada emissora do grupo Associadas e assim foi a nota sobre a operação em Minas:

BELO HORIZONTE: 10H27M
Belo Horizonte - A direção dos Diários e Emissoras Associados em Minas ainda não decidiu o que fará com os 300 empregados da TV Itacolomi, que ontem não chegou a entrar no ar. Por enquanto, nenhuma demissão foi anunciada e, ontem, em nova nota, o Sindicato dos Jornalistas de Minas exigiu que o Governo se responsabilize pelo reaproveitamento dos 300 demitidos.
A decisão dos Associados sobre os funcionários só deve ser anunciada segunda-feira e, se demitidos, os optantes pela CLT serão indenizados pela própria empresa, cabendo ao Governo pagar aos demais. A nota do Sindicato dos Jornalistas diz que "o Governo deve ser responsabilizado pelo destino dos empregados da TV, promovendo o reaproveitamento de todos pela nova concessionária, ou então pelas empresas estatais."
DESOLAÇÃO - Ontem, após a retirada da emissora do ar, às 10h27m, quando representantes do Dentel desligaram os dois cristais dos transmissores da Itacolomi, na Serra do Curral, o clima entre os funcionários, que já em de completa tristeza, chegou à desolação. A emissora não chegou a ir ao ar e foi retirada pelo Dentel quando restavam no vídeo as cores para a programação. Apesar disto, às 12 horas, repórteres da Itacolomi tentavam ouvir do Governador Francelino Pereira opinião sobre a crise na empresa.
A operação de retirada do ar e lacre nos transmissores foi executada sob ordens do diretor do, Dentel em Minas, Coronel Fleury, e amparada por um batalhão de choque da de PM, que se deslocou até o prédio central da emissora. Durante todo o dia, uma guarnição da radiopatrulha permaneceu em frente ao local. O Sr Francelino Pereira disse estar atento ao problema e lamentou a decisão, que, afirmou, "ninguém esperava, tendo em vista seus relatórios e sua situação financeira".
 Em breve postaremos arquivo no Google Docs contendo grades da programação da Itacolomi de diversas épocas, informações adicionais e imagens.

FONTES DA PESQUISA
TV Itacolomi - Uma tv para os mineiros.pdf por Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
http://tvpiratinicanal5rs.blogspot.com
http://tvitacolomi.com.br
Página do Carlos Fabiano Braga. Fotos e informações exclusivas: http://www.fabiano.pro.br
Ebook: http://www.youblisher.com/p/150221-Relatorio/