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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Roberto Drummond



Se houver uma camisa preta e branca pendurada no varal 
durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento. 
Ah, o que é ser atleticano? É uma doença? Doidivana paixão? 
Uma religião pagã? Bênção dos céus? É a sorte grande? 
O primeiro e único mandamento do atleticano 
é ser fiel e amar o Galo sobre todas as coisas. 
Daí, que a bandeira atleticana cheira a tudo neste mundo.
(Roberto Drummond.Trecho inicial da crônica
"Se Houver Uma Camisa Preta e Branca...")

Um dos mais lidos, estudados e comentados autores brasileiros, motivo de inúmeras teses de mestrado e doutorado, um dos mais célebres escritores de Minas Gerais e considerado o introdutor da literatura pop no Brasil, o homenageado da Minaspédia de hoje é Roberto Drummond.

Roberto Francis Drummond nasceu em Santana dos Ferros, MG, em 21 de dezembro de 1933 e faleceu em Belo Horizonte, em 21 de junho de 2002, vítima de problemas cardíacos. Recebeu uma homenagem da prefeitura de Belo Horizonte: uma estátua de bronze em tamanho real na Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi.

Iniciou sua carreira como jornalista na Folha de Minas. Tabalhou também na edição mineira do jornal Última Hora. No ousado e irreverente tablóide da década de 1950, o semanário Binômio, cujo título era uma gozação ao programa do então governador de Minas, Juscelino Kubitschek, e o lema era "99% de independência e 1% de ligações suspeitas" e Roberto guardava um carinho bem especial pelo período em que integrou a equipe. Com apenas 28 anos, assumiu a direção da prestigiada revista Alterosa, que revolucionou a imprensa de Minas Gerais, fechada pela Ditadura Militar em 1964. Em seguida, trabalhou no Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, voltando à Belo Horizonte em 1966. Assinou durante 21 anos a coluna Bola na Marca, do jornal Estado de Minas, e escreveu crônicas para o jornal Hoje em Dia. Roberto Drummond também fez um programa esportivo diário na TV Bandeirantes de Belo Horizonte.

Sua carreira como escritor iniciou-se em com a publicação do romance "A Morte de D. J. em Paris", em 1971. Em dez contos emblemáticos, o escritor revela a delicada fronteira entre realidade e fantasia. Relançado em 1975, este livro bateu recorde de vendas, foi considerado um marco na pós-modernidade da literatura brasileira, lançando a chamada Literatura Pop no Brasil, que é caracterizada por uma narrativa desconexa, recheada de referências a ícones da cultura pop, sem cerimônia, sempre inconclusa e bem próxima do cotidiano, permitindo ao leitor uma multiplicidade de possibilidades de interpretação. O livro recebeu o Prêmio Jabuti de escritor revelação do ano.

Em 1978, ainda localizado na linha de literatura pop, escreveu o romance O dia em que Ernest Hemingway morreu crucificado. Ao dormir em uma sexta feira da paixão, o senador Edward Kennedy e seu cachorro Red Panther  tem um pesadelo: sonham que um homem, cujo nome de guerra é Ernest Hemingway, está sendo crucificado no Brasil.

Sangue de Coca-cola (1980), é um livro que faz a análise de vinte anos de Ditadura Militar no Brasil em uma ótica forrada de esquisofrenia e lisergia. Em um dia 1º de abril, o Brasil tomou Coca-Cola com LSD, entrou numa bad e sofreu alucinações coletivas.


Quando fui morto em Cuba (1982). Marca o fim da fase inicial do autor. Em contos ‘rápidos‘, um extenso painel de época, de uma sociedade marcada pela violência e pelo arbítrio, é traçado. Os temas vão da solidão à ação política e incorporam-se a uma profunda análise do processo de perversão, de deslocamento de idéias por que vem passando o país ao longo de três décadas. Esta obra foi dramatizada para teatro nos anos 80 e a TV Minas produziu uma minissérie de 18 capítulos em 2007 sobre a obra. A emissora já havia enveredado por contos do autor em outros projetos de dramaturgia.



Em 1984, inaugurando-se em uma nova fase literária, com enredos mais complexos, lança o romance Hitler manda lembranças. Um rapaz com cara de anjo violenta meninas e depois as enforca, e um anão assaltante tira o sono dos ricos. Com esse pano de fundo, Drummond, um dos nossos mais inquietantes autores, cria um romance fascinante, cheio de mistérios e intrigas para desvendar o mistério da própria vida e do sonho humano de liberdade e felicidade.

Ontem à noite era sexta-feira (1988). Em meio às tentações de uma cidade erótica - a Belo Horizonte dos dias atuais - o leitor é seduzido de tal maneira que, mais do que cúmplice, torna-se também personagem de uma busca desvairada, por uma razão para estar vivo ou morto.

Em 1991, lançou seu maior sucesso, o romance Hilda Furacão, que foi adaptado para a televisão em 1998, por Glória Perez, numa minissérie.O fato de o livro ter se tornado sua obra-prima resultou numa espécie de prisão. "Sou um eterno refém de 'Hilda Furacão'", dizia. O cenário principal da trama é a capital mineira do final dos anos 50 e início dos anos 60. Os capítulos de Hilda seguem o modelo de suspense dos folhetins, instigando a leitura do próximo. Várias ações ocorrem quase ao mesmo tempo, dando ao texto uma dinâmica expressiva. A história central focaliza a personagem que dá nome ao romance, dona de um famoso cabaré na cidade. A produção da Globo saiu em DVD e é vasto o material disponível no Youtube.



1993, são publicados Inês é morta, pode ser lido no Google Books, e O homem que subornou a morte & Outras histórias 11 contos narrados com despojamento e lirismo.

1994, o autor publica Magalhães: navegando contra o vento, uma espécie de biografia.

2001, a última obra publicada em vida, O Cheiro de Deus, ironiza seu próprio sobrenome e narra histórias do clã Drummond em solo brasileiro.

Publicações póstumas:
* Dia de São Nunca à tarde;
* Os mortos não dançam valsa
* O Estripador da Rua G (saiu pela Fundação de Cultura de Belo Horizonte);
* Uma Paixão em Preto e Branco (Reunião das melhores crônicas de Drummond sobre o Clube Atlético Mineiro).

Roberto Drummond costumava dizer que a morte sempre esteve presente em suas obras. Basta observar o título de cinco dos seus livros.

Toda sua obra está sendo reeditada pela editora Objetiva, na Biblioteca Drummond.

Fontes:
http://www.objetiva.com.br/
http://www.passeiweb.com/
http://www.tirodeletra.com.br/
http://www.olutador.com.br/ Estudo de obras do autor para o Vestibular da PUC-MG.
http://www.atletico.com.br/ Resumo: Uma paixão em preto e branco.
http://www.oyo.com.br/ Resumo: Quando fui morto em-cuba.
http://www.skoob.com.br/Resumo: Hitler manda lembranças.
http://www.submarino.com.br/ Resumo: Ontem à noite era sexta-feira.
http://educacao.uol.com.br/ Resumo: O Cheiro de Deus

Parece que o nome Drummond em terras mineiras é de sorte para o meio literário!

Eu li "A morte de D.J. em Paris" e "Sangue de Coca-Cola". Uma das marcas do texto de Drummond era o seu jeito com a fragmentação de nomes de suas personagens, algumas vezes limitando-se a iniciais apenas. É notável, também, sua preferência e habilidade com títulos de impacto. Tanto para a obra, quanto para os capítulos. As capas de seus livros chegam a ser, também, um detalhe de impacto. 

Bem, voltamos na semana que vem com mais uma página da Minaspédia - A Enciclopédia de Minas. Tá bão assim?